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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Somos um Povo de Batráquios


(Imagem da Internet)
 
Há já algum tempo que tinha ensaiado um pequeno texto inspirado na "História da Rã” publicada no Blogue Chuviscos em 2009 - leitura que recomendo (clique aqui) e me dispenso de transcrever - cuja mensagem cada vez tem mais cabimento nestes conturbados tempos de incerteza, de ansiedade e de medo, repito, de medo, que induzem as pessoas a ter comportamentos atípicos.
 
A “história” tem fundamento científico e refere-se ao comportamento de uma rã viva que, colocada numa panela com água aquecida lentamente, acaba por morrer cozida sem saltar da panela. Destina-se a ilustrar o fenómeno do estado de letargia, induzindo a rã a não reagir a uma situação grave, e tem por origem a obra de  Olivier Clerc “La grenouille qui ne savait pas qu'elle était cuite… et autres leçons de vie” (JC Lattès, 2005) - "A rã que não sabia que estava a ser cozida... e outras lições de vida" -.
 
A mensagem subliminar que está por detrás da publicação do “Chuviscos” em 2009 destinava-se, à época, ao Governo Socialista de Sócrates, porém, como a história é intemporal, com a mudança de governo, a carapuça passou a servir ao atual Governo PDS/CDS de Passos Coelho (tal como ocorrerá no futuro com outros governos), mas não deixa de ser fantástico como o tempo altera a relatividade das coisas, se bem que para  o caso isso não interesse agora. O que interessa, isso sim interessa, é a mensagem em si mesma, e que significa mais ou menos isto:
Temos no nosso país um Povo (a rã) que está a ser “cozido” em lume brando e por isso não reage às malfeitorias a que está a ser sujeito paulatinamente (subida da temperatura da água na panela, na história da rã), Povo que quando concluir que tem que reagir e quiser mesmo reagir já é tarde, porque simplesmente ficou dependente de todas as maldades que lhe fizeram tal como a rã ficou da temperatura da água.
Vejamos quantos graus já nos "aqueceram a água" nestes pouco mais de dois anos que o PSD/CDS levam de Governo e aos quais nós, o Povo, não reagimos:
 
- Começaram por derrubar um Governo legítimo, tal como o atual, com argumentos sustentados num conjunto de falácias (coisa de que este agora se queixa que lhe querem fazer), e o Povo não reagiu. Até achou piada à coisa, correr com o "malandro" do Sócrates, era uma "grande vitória" (de Pirro, sabemos todos hoje por experiência própria);
 
- Depois desenvolveram uma campanha eleitoral sustentada em mentiras, e o Povo não reagiu;

- Quando legitimamente ocuparam a cadeira do poder fizeram exatamente o contrário daquilo que em campanha tinham prometido, e o Povo não reagiu;

- Já com as rédeas do poder, convenceram-nos que toda a obra realizada pelos governos anteriores - sobretudo pelo "estróina" do Sócrates - (hospitais, escolas, estradas, energias renováveis, modernização tecnológica, aposta nas pessoas...), era desnecessária e foi tudo dinheiro mal gasto. O Povo acreditou, e o Povo não reagiu;
 
- Mandaram os nosso filhos e netos desempregados emigrar, disseram-nos que o desemprego era uma oportunidade e acusaram-nos de calões, piegas, gastadores, preguiçosos, etc. e o Povo não reagiu;
 
- Obrigaram-nos a empobrecer "custe o que custar" (e está a custar "p`ra burro"), e o Povo não reagiu;
 
- Reduziram-nos os salários ou, no melhor cenário, congelaram-nos, e o Povo não reagiu;
 
- Roubaram-nos parte dos subsídios de Natal e de Férias, e o Povo não reagiu;
 
- Roubaram-nos mais uma parte do salário, que já tinha sido reduzido, com um aumento brutal de todos os impostos e introduziram mais um, a escandalosa Taxa Especial de 3,5%, que era para vigorar só em 2013, mas que já foram dizendo que talvez até 2015, e o Povo não reagiu;
 
- Impuseram a famigerada "Taxa de Solidariedade" e com ela roubaram uma parte significativa das reformas aos reformados, aposentados e pensionistas , classe mártir e indefesa que o Governo elegeu como inimigo número um a abater, e o Povo não reagiu;
 
- Transferiram para o Povo o pagamento dos custos da saúde, da educação e das infraestruturas públicas - que sempre foram pagas com os impostos que o Estado cobra ao Povo e às empresas - e canalizaram as receitas dos nossos impostos para tapar buracos (leia-se roubos) feitos por elites sociais e políticas, por apaniguados e protegidos do Governo, em seu próprio benefício, e o Povo não reagiu;

- Aplicaram 90% dos fundos do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social (entidade que assegura as nossas reformas) em dívida pública, pelo que se houver um perdão da dívida deixa de haver pagamento das reformas, e o Povo não reagiu;
 
- Recentemente decretaram o roubo de mais 10% nas pensões da grande maioria dos aposentados e reformados da Caixa Geral de Aposentações (Funcionários Públicos), e o Povo não reagiu;

- Há já estudos em curso para aplicar a "mesma dose" aos reformados e pensionistas da Caixa Nacional de Pensões (Setor Privado), e o Povo continua sem reagir;
 
- Preparam-se para lançar mais um aumento de impostos para 2014 (é só esperarmos pelo orçamento retificativo de março/abril do próximo ano), e o Povo continua impávido e sereno.
 
Acontece que "o Povo é sereno", mas esta crueldade a que o Governo do PSD/CDS nos está a submeter não é só fumaça, como dizia o Almirante Pinheiro de Azevedo quando era Primeiro Ministro e o cercaram no Terreiro do Paço, fazendo detonar petardos à sua volta; Isto é real e bem real, e que quando o Povo acordar da letargia induzida por estes fanáticos que nos governam já poderá ser tarde, tal como sucede à rã da história do Olivier Clerc.
 
Um Povo resignado, consente que lhe façam toda as espécie de maldades incluindo a tortura, física e psicológica, e até a morte. E o pior, pior, é que o pior ainda está para vir. Por isso eu poderei ser tudo, mas resignado não porque esta gente é desumana, cruel e perigosa.

“Entre um governo que faz o mal e o povo que o consente, há uma certa cumplicidade vergonhosa”. (Victor Hugo)

 

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